quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Novembro: o mês das homenagens à Zumbi dos Palmares

O dia 20 de novembro de 2024 se estabelece como o primeiro ano a se celebrar, em todo o território nacional, a Lei que consagra o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra enquanto feriado. Cabe registrar que em 21 de março de 1997 o nome de “Zumbi dos Palmares” recebeu a mais nobre comenda brasileira ao estar inserido na lista do Panteão da República como herói nacional, em registro no Livro de Aço dos Heróis e Heroínas Nacionais. Localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, o memorial Panteão da Pátria Tancredo Neves abriga este registro em livro de aço. Esta publicação é um marco ao valor histórico que homenageia as personalidades de grande destaque nacional. Nos aspectos educacionais, os esforços pedagógicos em ações afirmativas encontram ressonância nas Leis 10.639/03 e 11.645/08, cujos teores tornam obrigatórios o estudo da história e cultura indígena, afro-brasileira e do continente africano, em todas as modalidades educacionais das redes de ensino. Desta forma, estas diretrizes devem compor os componentes curriculares das unidades escolares, enriquecendo os respectivos repertórios de conhecimentos ofertados aos estudantes, em conformidade às normativas explicitadas na LDB e BNCC. Outro fator relevante se observa no reconhecimento dos esforços realizados pelos países em África, por seus acelerados processos de desenvolvimento urbano, social e econômico, em benefício de suas populações, e de suas respectivas representações no Brasil, através das embaixadas e consulados, na ampliação de interações empresariais e comerciais, no intercâmbio universitário, na ampliação do turismo, enfim, em todos os gestos que fortalecem as conexões entre nossos países. Os avanços para a superação de proposições racistas e preconceituosas, historicamente arraigadas na sociedade brasileira, vem alçando patamares institucionais consideráveis. Há, portanto, que se aplaudir o dia 20 de novembro como um marco na construção de uma sociedade brasileira que tenha em seus princípios o fortalecimento da democracia, a liberdade, a igualdade de oportunidades e a valorização da cidadania. Prof. Dr. Odair Marques da Silva Diretor de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Zumbi dos Palmares e autor do Atlas Geocultural da África.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Afriotimista, eu!

POESIA Afriotimista, eu? E agora, Drummond? O continente sobreviveu, a espiritualidade transbordou, a velha semente renasceu, a alegria de viver venceu, e agora, Mia? e agora, você? As fronteiras se desfazem, nos desassossegos que se escondem em Jesusalém, você que sonha, vive! Entre as contendas da alma, encontro Fanon, esperançar e tédio, inédito-viável e dores no corpo, escrevivências e repetições inaudíveis, lugar de fala e fala no lugar, atravessar eternos Miltons, o cansaço e a resistência, in memoriam: Biko. O que virá? Na doçura de Chiziane, as Áfricas reverberam cores, atravessam florestas e rios, cheios de vida e perigos, das lembranças de Senghor. Com o futuro na mão, pujante e vibrante, não resiste em prosseguir. Prolegômenos, brincar com as palavras, no mar caudaloso das línguas maternas, Ah! Saudades de Pata Pata e Makeba, cantava e não sabia sobre o que cantava! Enfim, herdei o prazer de cantar e dançar, gratidão, herdei o prazer de ouvir e contar histórias, gratidão, herdei o prazer de acolher e repartir, gratidão, a naturalidade em viver e morrer, gratidão, e, singelamente, admirar a beleza dos embondeiros! Sozinho, nunca: família. A marimba, djembé, corá e mbira acalentam a alma, expressam sentimentos radiantes, e projetam aos novos horizontes as aprendizagens dos caminhos percorridos. Autoria Odair Marques da Silva www.africaatual.com.br Publicada na revista “Universidade e Sociedade”, Ano XXXIV, n.74, julho 2024, pág. 176. Notas sobre a poesia O poema foi inspirado na estética de Carlos Drummond de Andrade, em seu poema de título “E agora, José”, publicado originalmente em 1942, e permanece atualíssimo. O afro-otimismo é uma corrente de pensamento, que nasce em África, com uma trajetória milenar e, de certa maneira, se contrapõe às vertentes conceituais do afro-pessimismo. O eixo temático procura mesclar as escrevivências das histórias de vida, percorridas pelo autor, como expõe Conceição Evaristo. Algumas metáforas e enigmas inseridas nas breves frases se mesclam aos romances de Mia Couto, entre estes, Jesusalém. O rompimento de fronteiras geográficas, coloniais, ideológicas, estigmatizantes, usurpadoras, excludentes, e a necessária e urgente aproximação e reconexão com os 54 países do continente africano também percorrem a alma deste poema. Os Miltons é uma homenagem a Milton Nascimento, músico, e Milton Santos, geógrafo, e aos que lutam pela libertação plena do ser humano. Há uma curiosidade em Pata Pala, muito popular no Brasil, e música pop internacional na década de 1970, que significa “toca toca”, na língua Xhosa, no sentido de tocar, aproximar-se. Poucas divulgações expressam que Makeba, sua intérprete, era uma liderança ativista contra o apartheid e pelos direitos humanos. Enfim, família, por um mundo mais justo, fraterno, humano e sustentável.