quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mets a mets

A terra caga
A terra faz xixi
Vulcões e cachoeiras.
É a lama, é a lava!
Palavras infantis,
Brincadeiras da velhice.

(Odair Marques da Silva, 04/1/2013)
Poema
Daqui e daí

De pum em pum
Enxofre e tsunamis.
Deliciosa maratona
de suores e vaidades.
Presentes da terra

(Odair Marques da Silva, 07/01/2013)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A escola necessita se “transalfabetizar”


por Clarinha Glock, da IPS Inter Press Service - 02/05/2013
 
A alfabetização de hoje implica saber o que é código, documento e atualidade, afirma Divina Frau-Meigs.
Porto Alegre, Brasil, 30/4/2013 – É necessário um novo contrato social na educação, que incorpore plenamente a informática e a concepção dos direitos humanos do século 21, afirmou em entrevista à IPS a doutora em meios de comunicação francesa Divina Frau-Meigs. Professora de estudos americanos e de sociologia da mídia na Universidade de Sorbonne Nouvelle Paris 3, Frau-Meigs afirma que professoras, professores e estudantes devem assumir plenamente a transalfabetização.
Trata-se de “saber ler, escrever, calcular e computar. Contudo, computar inclui entender estas três categorias de informação: código, documento e atualidade/imprensa”, afirmou Frau-Meigs, assessora do Conselho da Europa e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Em visita ao Brasil para participar de um seminário, a especialista conversou longamente com Clarinha Glock. A seguir um resumo da entrevista.
IPS: O que é a transalfabetização?
DIVINA FRAU-MEIGS: É saber ler, escrever, calcular e computar. Contudo, computar inclui entender estas três categorias de informação: código, documento e atualidade/imprensa. Deve-se capacitar alunos e docentes. O papel da escola é esclarecer e permitir às pessoas entender todo tipo de conteúdo, modificá-los e comentá-los.
IPS: Qual é o principal obstáculo?
DFM: Os estudantes acreditam que sabem tudo, a partir de sua perspectiva de lidar com computadores e tablets. E os professores dizem que se os alunos tiverem bons conhecimentos para ler e escrever é suficiente. É necessário romper essas resistências com sensibilização, em aulas práticas. Por exemplo: peço aos alunos que procurem toda informação que precisam para seus projetos. Eles respondem: “há milhões de dados, não sei por onde começar”. Ensinar a eliminar, avaliar, qualificar, assessorar, mudar, esse é o papel da escola. É uma maneira de aprender a aprender, que é o que devemos voltar a colocar no centro do projeto curricular.
IPS: Como aplicar estas propostas em países onde o pessoal docente ainda é mal remunerado?
DFM: Não estou certa de que se deva colocar o salário em primeiro lugar. Por isto falo da necessidade de estabelecer um novo contrato social. Devemos voltar a decidir que a escola importa, que a alfabetização importa e que hoje em dia é imprescindível a alfabetização eletrônica. Uma vez que estejamos de acordo sobre qual é nossa missão, aí sim poderemos discutir salários e condições dentro e fora da aula. A transalfabetização não ocorre somente na escola. Os ritmos escolares mudam, porque os alunos podem se conectar à noite, fora da sala do ambiente escolar. O papel do professor também será diferente. É preciso valorizar seu salário, mas sabendo o que requer para sua formação e as novas condições de horários, ritmos e recursos. A decisão deve ser compartida pelo por docentes, ministérios, sindicatos, empresas e estudantes, tal como um novo contrato social.
IPS: E como seria esse novo contrato social?
DFM: Desde o século 19, o contrato social tem sido de uma escola livre, pública – embora muitas sejam privadas – e secular. Deve-se incorporar a ela o caráter de “aberta” mediante a informática, que dá acesso a muitos conteúdos de outros países e culturas. Com a informática, as ideias podem ser desenvolvidas ao máximo. E, se a utilizarmos bem, poderá empoderar a todos. Também é necessário ampliar o contrato com a concepção dos direitos humanos que não existia no século 19. Em 1948, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), nasceram os direitos humanos universais e a internet. As duas ferramentas – moral e técnica – nasceram ao mesmo tempo. É preciso tornar os jovens partícipes de um futuro positivo. Isto se faz com valores. Queremos ser pessoas criativas, expressivas, dignas, participativas, educadas. É isso o que motivará as pessoas a irem à escola e também a mudá-la. Construído o consenso, depois virá a discussão sobre salários e recursos.
IPS: E como está sendo implantado este novo contrato social na França?
DFM: O problema francês, como o de outros países, é a mudança de escala. Há experiências de tamanho pequeno que já funcionam em escolas. Mas um sistema laico, secular, público, aberto e livre tem de ser acessível a todos. Agora, em maio, teremos uma reunião em Lyon com funcionários dos ministérios. Devemos convencer os que tomam as decisões, porque se eles não nos acompanham, não promoveremos esta mudança.
IPS: Não se trata apenas de dotar as escolas de computadores…
DFM: Absolutamente, não. Inclusive em países pobres muitas pessoas têm um portátil. Os preços estão baixando, cada vez há mais aplicativos livres e abertos, pode-se baixar tudo, e quanto mais, melhor. Mas é preciso capacitar sobre transalfabetização para entender o desenho das plataformas, como editar seus conteúdos e utilizar o que existe, avaliá-lo, informá-lo e arquivá-lo. Para isto já temos pessoas formadas, invisíveis ao sistema, que são os bibliotecários. Eles se informatizaram há tempos. Na França, estamos capacitando-os para que também sejam formadores/educadores. A expressão oficial é “professor bibliotecário”: não são apenas ajudantes, podem mostrar às crianças a informação como código, como documento e como atualidade, algo que os professores em geral não fazem. Seu papel é saber buscar, questionar, fazer boas perguntas e depois, quando se obtém resultados, selecionar, guardar e agregar todas as ideias para fazer um documento próprio do aluno. Não estamos começando do zero. A Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias, com sede na Holanda, é forte e tem filiais em cada país.
IPS: Quais diretrizes a União Europeia emprega para regular os meios de comunicação?
DFM: A diretriz Televisão Sem Fronteiras foi revista e transformada em Serviços de Comunicação Audiovisual. As empresas europeias não podiam, por exemplo, fazer publicidade de produtos nos filmes. Protestavam porque estavam perdendo a batalha contra os norte-americanos, pois estes podiam. Isto foi concedido e também mais espaço para publicidade. Como contrapartida, decidimos incentivar os países a fazerem educação para a mídia. O Parlamento Europeu fez uma recomendação e as diretrizes estão em vigor desde 2010. A ideia está avançando, mas não recebeu mais recursos, então precisamos dividir o que existe para uma nova tarefa. O risco é que a educação para a mídia acabe sendo privatizada, porque a escola não pode fazê-la.
IPS: E o que é a Hollyweb?
DFM: A Hollyweb é uma associação entre os maiores produtores de mídia clássica e audiovisuais com os principais meios digitais, como Google, Disney, General Electric, Microsoft, Apple. Alguns estão se transformando em editores de conteúdos, têm escolas e penetram em outras. Já o faziam antes, mas, com as oportunidades de autopublicação e produção de conteúdos a baixo custo, aproveitam para vender seus serviços. É um sistema que está semiprivatizado. O problema não é os conteúdos serem bons ou maus, mas o princípio, a maneira de organizar sua distribuição na escola. Isto não é gratuito, tem um preço que devemos avaliar em termos de valores. Envolverde/IPS

Aconteceu debate sobre internet e sociedade!

Internet dá as cartas na sociedade contemporânea
Nesta sexta (17), o encontro será com Gilson Schwartz, economista da USP e blogueiro da Exame
O que diria o velho guerreiro Chacrinha, nos dias de hoje, diante da avalanche da internet invadindo o cotidiano do planeta?A máxima “quem não se comunica, se trumbica” com certeza já teria caído no anacronismo. Para refletir e discutir sobre a influência da internet no nosso cotidiano, o Café Filosófico CPFL dedicará, em maio, quatro encontros, sempre às sextas-feiras, a partir das 19h, com transmissão online pelo sitewww.cpflcultura.com.br/aovivo com participação dos internautas pelo chat. A curadoria é de Bernardo Sorj, diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A internet penetra em praticamente todas as esferas da sociedade, pois afeta uma atividade fundamental para se viver: comunicação. “Ela se faz presente nas relações pessoais, familiares, na educação, na cultura, na economia ou na política, permitindo a comunicação e a transmissão de imagens e informação em termo real, eliminando a barreira do espaço, e colocando à disposição do internauta o acervo de praticamente todo o conhecimento humano”, pontua Sorj.
 Para ele, a internet mudou radicalmente nosso cotidiano, colocando novos desafios à imaginação social e política. “Como potencializar seus benefícios e amenizar seus malefícios?”, indaga. As pistas estarão na série.   
Quem é quem
Pollyana Notargiacomo Mustaro, pedagoga, mestre e doutora pela USP, atualmente é professora na Graduação e Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Desenvolve pesquisas e trabalhos, há mais de 20 anos, na área de tecnologia educacional. Suas atividades voltam-se principalmente para Design Instrucional, EaD, Jogos Digitais, Redes/Mídias Sociais e Objetos de Aprendizagem.
José Marcelo Zacchi é pesquisador-associado do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS). Foi diretor do Instituto Pereira Passos / IPP-Rio e fundador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, do site Overmundo e do Instituto Sou da Paz.
Gilson Schwartz é economista, sociólogo, jornalista e professor da ECA-USP. É colunista da revista Proxxima e blogueiro da Exame.
Bernardo Sorj é diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.  Foi professor visitante em varias universidades europeias e dos Estados Unidos.   Autor de 27 livros publicados em várias línguas, sobre o impacto das novas tecnologias, teoria social, América Latina e democracia.
Agende-se
03/05 (sexta), 19h
Internet e Educação. Com Pollyana Mustaro
10/05 (sexta), 19h
Internet e Política - Cidadania digital: internet como espaço publico. Com José Marcelo Zacchi
17/05 (sexta), 19h
Internet e Economia. Com Gilson Schwartz
24/05 (sexta), 19h
Internet e vida cotidiana. Com Bernardo Sorj
Serviço
Café Filosófico CPFL
Série: Como a internet está mudando nossas vidas?
Curadoria: Bernardo Sorj
Local: CPFL Cultura (Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632, Chácara Primavera, Campinas. SP)
Entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 18h. Informações: CPFL Cultura (19) 3756-8000 ou em www.cpflcultura.com.br
Assessoria de Imprensa
Maria Claudia Miguel (Cacau)
Telefone (19) 7808.3547

FSP sobre mobilizações e redes sociais

Veja esta noticia: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/112107-nao-basta-um-manifesto-nas-redes-sociais-para-mobilizar-as-pessoas.shtml
CEDAP CONTRATA:

O Projeto Ateliê Escola Convivência e Arte tem como objetivo inserir socialmente adolescentes egressos do sistema de medidas socioeducativas de Campinas, através das atividades de arte educação e socioeducativas, e busca fortalecer adolescentes e suas famílias no acesso á rede de proteção.

EDUCADOR SOCIAL: 30 horas (período da tarde), CLT, vale transporte, com experiência em trabalho com adolescentes, grupos e arte educação.

Principais atribuições: planejamento e execução de atividades de arte educação e socioeducativa, elaboração de relatório, participação em reuniões institucionais.

Interessados enviar currículo até dia 10 de Janeiro de 2014.

Telefone: 3231-5644 e-mail : atelieescola@cedap.org.br

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Identidade e diferença

Respeitar a diferença não pode seignificar "deixar que o outro seja como eu sou" ou"deixar que o outro seja diferente de mim tal como eu sou diferente (do outro)",
mas deixar que o outro seja como eu não sou, deixar que ele seja esse outro que não pode ser eu, que eu não posso ser, que não pode ser um (outro) eu;
significa deixar que o outro seja diferente, deixar ser uma diferença que não seja, em absoluto, diferença entre duas identidades,
mas diferença da identidade, deixar ser uma outridade que não é outra
"relativamente a mim" ou "relativamente ao mesmo", mas que é absolutamente diferente, sem relação alguma com a identidade ou com a mesmidade (Pardo, 1996: 154).
Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Tomaz T. da Silva (org). Editora Vozes. 2012.

Alunos de SP criam aplicativo para celular sobre a ditadura militar no país



Parabéns aos alunos e, principalmente, à professora de História que dencarou dar o impulso inicial mesmo sem qualquer experiência prévia em criação de apps, e encontrou uma ferramenta que permitiu aos estudantes realizar o processo.
Via g1.globo.com:
Um grupo de 43 alunos do nono ano do ensino fundamental de um colégio particular de São Paulo criou um aplicativo sobre a ditadura militar no Brasil. O resultado, disponível para download em tablets e celulares com sistemas operacionais Android e iOS, foi divulgado na semana passada. De acordo com a professora de história do Colégio I. L. Peretz, Melanie Grun, o aplicativo faz parte de um projeto interdisciplinar feito durante boa parte do segundo semestre letivo deste ano, que envolveu as matérias de história, português, geografia e artes.
"A gente até tem outros projetos interdisciplinares com tecnologia, mas esse acho que foi o mais completo por ter tantas matérias que acabaram participando", explicou Melanie ao G1.
A ideia de usar a tecnologia dos smartphones no projeto teve como objetivo aproximar os alunos, que hoje têm entre 13 e 14 anos e nasceram no ano 2000, de um tema distante da realidade deles –a ditadura militar– usando uma ferramenta do cotidiano deles. "Tem muito a ver com a idade deles, de 13 a 14 anos, foi uma ferramenta que acabou estimulando muito", disse ela.
 
fonte:  http://br-linux.org/2013/01/alunos-de-sp-criam-aplicativo-para-celular-sobre-a-ditadura-militar-no-pais.html

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A web abissal e o ativismo digital

Quarta-feira, 16 de Outubro de 2013 | ISSN 1519-7670 - Ano 17 - nº 768

 

Por Sergio da Motta e Albuquerque em 15/10/2013 na edição 768



O Facebook não é uma plataforma segura para o ativismo na web. Muito pelo contrário: a rede é conhecida por sua insistência em invadir a privacidade alheia e distribuir dados de usuários a empresas e agentes da lei. Por isso muitos ciberativistas têm recorrido à Deep Web, a web profunda. Nas redes sociais brasileiras, agora que os governos estaduais partiram para a ação dentro delas, já estão presentes menções a uma possível fuga para as profundezas da web invisível.
A web profunda é composta por todos os sites não indexados em motores de busca. Ela não é outra rede, faz parte da web, mas não é visível aos olhos de quem navega em condições convencionais. A Deep Web é totalmente criptografada e seus links parecem tudo menos uma ligação a outro site. O Portal da EBC (28/8) publicou uma boa explicação sobre o que é e como funciona a web profunda.
Cada vez que um usuário entra na web, seu provedor de acesso atribui-lhe um número. É o seu IP (“internet protocol”, protocolo de internet). Esse número funciona como um CEP. Ele mostra sua localização. O provedor de acesso então procura a equivalência entre o seu número de IP e o nome do site correspondente que foi solicitado e entrega a página ao utente. Mas tudo isso é rastreado em detalhes: tudo o que foi indexado pelos motores de buscas e tem permissão de ser acessado é revelado aos buscadores da web. Tudo o que não consta nas buscas e não pode ser identificado por DNS é parte da Deep Web, explicou o portal.
Liberdade de expressão e copyright
A web mais profunda não é como muitos pensam, um ambiente onde prevalece o mal e o crime. É verdade que lá se encontra tudo de ruim que existe entre os homens. E tudo de bom, também. Universidades, centros de pesquisa e até mesmo editores de jornais conhecidos trabalham nas profundezas da web por necessidade de serviço: eles querem conversar entre eles sem serem monitorados. E têm todo o direito.
Para navegar nas regiões abissais da web é necessário equipamento (programas) para deixar o internauta “invisível” na rede. E isso não é possível de forma completa em nenhum nos dois sistemas de navegação “anônima” disponíveis: o Tor e a Freenet. O Tor é o mais antigo e também o mais perigoso. Foi criado em 1996 pela Marinha americana e vem sendo mantido por entidades privadas, doações de usuários e entidades institucionais. A revista Ars Tehcnica (4/8) publicou uma reportagem que explica como um usuário criminoso foi localizado e preso na Irlanda por meio de um dispositivo virtual escrito em java script que foi implantado lá sem que ninguém notasse.
O Tor é uma rede centralizada, e para acessá-la o internauta deverá usar um proxy – um servidor intermediário que passa adiante a outro servidor tudo o que o internauta lhe pede. Mas o fato da rede ter um centro e aceitar o java script a torna vulnerável. O script é o maior delator de presenças que desejariam estar encobertas na rede.
A Freenet é uma iniciativa mais recente e menos perigosa. Mas ainda oferece perigos. Até 2010 o projeto recebeu colaboração do Laboratório de Pesquisa Naval da Marinha americana. Ninguém sabe exatamente como se deu e qual foi o conteúdo desta colaboração, por isso todo cuidado é pouco. O projeto nasceu no ano 2000 da imaginação de Ian Clarke, cientista irlandês com bacharelado em inteligência artificial, ativista da liberdade de expressão e inimigo dos direitos de cópia (copyright) nos Estados Unidos. Clarke afirma em uma página do site do projeto que a liberdade do fluxo de informações está em franca contradição com os direitos de copyright:
“Está claro que muito da publicidade da Freenet está centrada ao redor da questão do direito decopyright, então falarei brevemente sobre isso. O centro do problema com o copyright é que sua aplicação requer a monitorização das comunicações, e você não pode garantir a liberdade de expressão se alguém está a monitorar tudo o que você diz. Isso é importante, a maioria das pessoas não consegue ver ou abordar este ponto quando debatem a questão do copyright, então deixe-me tornar tudo claro: você não pode garantir liberdade de expressão e aplicar lei de copyright.”
Privacidade aumentada
O leitor (ou leitora) talvez tenha notado que eu não traduzi copyright como “direito do autor”. São coisas diferentes: o direito europeu continental procura defender o autor da obra. A lei norte-americana trata apenas do direito da reprodução da obra. A tradução aqui tem que ser literal: copyright significa direito de cópia. Clarke não contesta o poder legítimo dos autores, mas os daqueles que imaginam deter os diretos de reprodução de obras e produções intelectuais.
A Freenet é a rede ideal para ativistas da web. É uma mistura de rede P2P e computação distribuída, onde os usuários emprestam largura de banda e um pedaço mínimo de seu disco rígido para acumular informação relevante, que é imediatamente apagada depois que dados mais importantes chegam. A rede não tem centro, é horizontal e através dela pode-se compartilhar arquivos, páginas, música e tudo o que trafega na web rasa e na profunda também. Sua interface não aceita java script por padrão e roda dentro do navegador Google Chrome em modo anônimo. É uma rede contida em si mesma que tem uma filosofia compatível com o ativismo cibernético e a defesa radical da liberdade de expressão.
O Departamento de Engenharia Eletrônica e de Computação da UFRJ tem publicado na web um estudo muito bom sobre a Freenet e sua arquitetura. De forma simplificada, a Freenet junta o poder de vários computadores e apresenta-se como uma unidade que na realidade não existe: são centenas ou milhares de máquinas operando em conjunto para aumentar o poder de computação. A rede é organizada por nós “que se consultam para armazenar ou fornecer arquivos de dados”, e cada nó (que nesta rede pode ser um cliente, um servidor ou usuário) tem privacidade aumentada porque “possui apenas conhecimento de seus nós vizinhos, para manter a privacidade”.
Direito à privacidade
A Freenet é mais segura porque é uma rede fechada em si mesma e nunca expõe o IP do internauta. Ela é uma rede P2P com a segurança reforçada. Que pode acessar conteúdos das regiões abissais da web com muito menos riscos que o Tor. Mesmo assim, ainda há brechas para invasões na rede. A web, rasa ou funda, é uma rede aberta e a segurança dos sistemas, servidores e usuários está sempre em questão. Mesmo em suas regiões mais profundas, onde tudo é criptografado e os internautas só se comunicam com seus pares dentro de uma rede fechada através de links diretos, não há garantias de anonimidade completa. Alguém sempre pode infiltrar-se lá dentro e plantar um identificador oculto que leve informação de volta a olhos errados.
Existe uma tendência em parte da imprensa em demonizar projetos como a da Freenet e programas como o Tor. “São facilitadores de pornografia infantil, terrorismo e crime”, acusam. Não podemos negar isso nem esquecer o outro lado da moeda: nos dias de hoje governos das potências hegemônicas (e mesmo alguns pequenos poderes atrevidos, como o Canadá) rotineiramente espionam seus parceiros, inimigos e pessoas consideradas suspeitas por elas. Exigem o anonimato para espionar países e pessoas, mas negam ao cidadão o direito à privacidade de exercer seu direito de comunicar-se com seus iguais sem a interferência de observadores ocultos. Já passou a hora de acabarmos com o abuso.
***
Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor

Felicidade Sustentável

A Rede Nossa São Paulo desenvolveu o Irbem (Indicadores de
Referência de Bem-Estar nos Municípios) para avaliar a qualidade
de vida nas cidades. Para montar os indicadores, a perguntou-se
aos habitantes quais seriam os itens importantes para sua
qualidade de vida.

A maioria respondeu que a felicidade é ter uma boa, carinhosa e fraterna
convivência com a família, os amigos e a comunidade; uma relação amorosa
saudável; equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; acesso a educação e
transporte público de qualidade; proximidade da natureza; frequentar
cinema, espetáculos, teatros e museus; hospital e posto de saúde perto de
casa; melhor convivência com animais; vida espiritual rica; prática de
atividades físicas; ações comunitárias e a chance de viver numa sociedade
solidária e segura (veja a pesquisa completa em
www.nossasaopaulo.org.br>).

É claro que condições materiais razoáveis de vida são importantes, e é
fundamental que as políticas públicas objetivem proporcionar essa
realidade para todos. Mas centrar a felicidade no consumo e no acúmulo de
bens é insustentável.

Ao olhar todos os apelos que hoje relacionam consumo à felicidade, é de se
perguntar: como fizeram antigas gerações, antes de todas essas invenções,
para serem felizes? Como fazem as pessoas sem carros ou sem últimos
modelos para serem felizes? Por que muitas pessoas que têm todos esses
bens são infelizes?

Em vez de promovermos investimentos e empregos em atividades artísticas,
culturais e educacionais que favoreçam a saúde e o bem-estar, apoiem
idosos, pessoas com deficiência, crianças e populações menos favorecidas,
priorizem o transporte público de qualidade, preservem a natureza e
apostem na pesquisa médica e no desenvolvimento de energias sustentáveis,
concentramos nossos esforços em produzir bens de consumo que rapidamente
tornamos obsoletos para podermos, enfim, consumir suas novas versões.

Só teremos um modelo de desenvolvimento sustentável que preserve o
planeta, reduza a desigualdade e promova a paz, a solidariedade e a
qualidade de vida das pessoas e das futuras gerações se houver uma ampla
reflexão pessoal e coletiva sobre a felicidade, sobre o que realmente
precisamos para sermos felizes. E se essa reflexão pautar a vida das
pessoas, empresas, instituições e governos.

* Oded Grajew é coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e presidente
emérito do Instituto Ethos.

Texto publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo, em 20 de
novembro de 2013.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Autobiografia

"Para os seres humanos, como seres da práxis, transformar o mundo, processo em que se transformam também, significa impregná-lo de sua presença criadora, deixando nele as marcas de seu trabalho.

A criticidade e as finalidades que se acham nas relações entre os seres humanos e o mundo implicam em que estas relações se dão com um espaço que não é apenas físico, mas histórico e cultural.

Para os seres humanos, o aqui e o ali envolvem sempre um agora, um antes e um depois.

Desta forma, as relações entre os seres humanos e o mundo são em si históricas, como históricos são os seres humanos, que não apenas fazem a história em que se fazem mas, consequentemente, contam a história deste mútuo fazer.

A "hominização" - Chardin - no processo da evulução, anuncia o ser autobiográfico." (p.81)


Paulo Freire, Ação Cultural para a Liberdade. 2006.

O que é significação?

"Ou, antes, para abordar o problema de um ponto de vista mais operacional, em que consiste o ato de atribuir sentido?
A operação elementar da atividade interpretativa é a associação; dar sentido a um texto é o mesmo que ligá-lo conectá-lo a outros textos, e portanto é o mesmo que construir um hipertexto.

É sabido que pessoas diferentes irão atribuir sentidos por vezes opostos a uma mensagem idêntica. Isto porque, se por um lado o texto é o mesmo  para cada um, por outro o hipertexto pode diferir completamente. O que conta é a rede de relações pela qual a mensagem será capturada, a rede semiótica que interpretante usará para captá-la." (72, Lévy, 1993. As tecnologias da ciência)


"Trabalhar, viver, conversar fraternalmente com outros seres, cruzar um pouco por sua história, isto significa, entre outras coisas, construir uma bagagem de referências e associações comuns, uma rede hipertextual unificada, um contexto compartilhado, capar de diminuir riscos de incompreensão."
 (p. 72-73)


o processo de alfabetização de adultos como ação cultural para a libertação

" Aprender a ler e escrever se faz assim uma oportunidade para que mulheres e homens percebam o que realmente significa dizer a palavra: um comportamento humano que envolve ação e reflexão.

Dizer a palavra, em um sentido verdadeiro, é o direito de expressar-se e expressar o mundo, de criar e recriar, de decidir, de optar. Como tal, não é privilégio de uns poucos com que silenciam as maiorias.

É exatamente por isto que, numa sociedade de classes, seja fundamental à classe dominante estimular o que vimos chamando de cultura do silêncio, em que as classes dominadas se acham semimudas ou mudas, proibidas de expressar-se autenticamente, proibidas de ser. "

(p.59, Paulo Freire, 2006). (Ação Cultural para a Liberdade)

semântica

Linguística. Que tem por objeto o estudo da relação dos signos com aquilo que eles significam, numa língua dada, i.e., estudo das palavras no que respeita a seus significados.

Sinônimo de semântica: semiologia


"Quando ouço uma palavra, isto ativa imediatamente em minha mente uma rede de outras palavras, de conceitos, de modelos, mas também de imagens, sons, odores, sensações proprioceptivas, lembranças, afetos, etc." Lévi, 1993, 23)

"Isabela come uma maça por suas vitaminas"
"maça da discórdia"
"maça de Newton"

as imagens e modelos mentais são diferentes.

"cada palavra contribui para produzir um contexto, ou seja, uma configuração semântica reticular que, quando nos concentramos nela, se mostra composta de imagens, de modelos, de lembranças, de sensações, de conceitos e de pedaços de discurso." (p.24)

"Não somente cada palavra transforma pela ativação que propaga ao longo de certas vias, o estado de excitação da rede semântica, mas também contribui para construir ou remodelar a própria topologia da rede ou a composição de seus nós." (24)

Em questão a cultura, a leitura, as experiências de vida!

Neutralidade

Livro: Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos. Paulo Freire. 9a Ed. 2006.

"Na estrutura social, enquanto dialetização entre a infra e supra-estrutura, não há permanência da permanência nem mudança da mudança, mas o empenho de sua preservação em contradição com o esforço por sua transformação.
Dai que não possa ser o trabalhador social, como educador que é, um técnico friamente neutro.
Silenciar sua opção, escondê-la no emaranhado de suas técnicas ou disfarçá-la com a proclamação de sua neutralidade não significa na verdade ser neutro mas, ao contrário, trabalhar pela preservação do "status quo"." (p.45)

A metáfora do Hipertexto

Livro: As tecnologias da Inteligância: O futuro do Pensamento na Era da Informática. 1993. Pierre Lévy.

"Seria a transmissão de informações a primeira função da comunicação?
Decerto que sim, mas em um nível mais fundamental o ato de comunicação define a situação que vai dar sentido às mensagens trocadas.
A circulação de informações é, muitas vezes, apenas um pretexto para a confirmação recíproca do estado de uma relação.
Quando, por exemplo, conversamos sobre o tempo com um comerciante de nosso bairro, não aprendemos absolutamente nada de novo sobre a chuva ou o sol, mas confirmamos um ao outro que mantemos boas relações, e que ao mesmo tempo nossa intimidade não ultrapassou um certo grau, já que falamos de assuntos anódinos etc." (p.21)