segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Aposentado é preso em flagrante por racismo

Aposentado é preso em flagrante por racismo
Ariovaldo Luiz Filier agrediu verbalmente atendente na Prefeitura

Adagoberto Baptista
Luciana Félix
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
gandi@rac.com.br
luciana.felix@rac.com.br

O aposentado Ariovaldo Luiz Filier, de 55 anos, foi preso acusado de racismo, anteontem, em Campinas. Ele ofendeu uma atendente da Prefeitura em frente ao guichê no Paço Municipal. A funcionária vítima de racismo, A.V.S., de 30 anos, chamou a senha do aposentado e, ao ver que a moça — que é negra — o atenderia, Filier começou a xingá-la. “Ele disse: ‘Não quero ser atendido por preto. Eu quero ser atendido por uma das duas branquinhas. Preto é tudo safado, não faz nada direito, não vale nada’”, afirmou A.

Filier foi levado por guardas municipais (GMs) para o 13º Distrito Policial (DP), onde foi autuado em flagrante por crime de racismo e encaminhado para a cadeia anexa ao 2º DP, no São Bernardo.

V. contou que tinha terminado um atendimento e, quando chamou a senha, viu o senhor que estava com documentos nas mãos para serem entregues no guichê em que ela trabalha. “Ele começou a gritar. As pessoas ficaram assustadas e sem entender o que acontecia. Minha supervisora até tentou falar com ele. Que as outras atendentes estavam ocupadas e que eu poderia atendê-lo. Mas ele continuou a ofender a minha raça. Dizia: ‘Hoje não vou ser atendido por preto. A sua raça é mentirosa’”, afirmou a mulher, ainda constrangida com a situação.

A funcionária disse ao aposentado que o que ele fazia era crime inafiançável e que chamaria a polícia. Ele continuou gritando e chegou a correr. Guardas municipais o detiveram na Rua Benjamin Constant. Levado até a delegacia, o aposentado, em um primeiro momento, disse ter esquecido o que tinha se passado. Mas depois falou que estava nervoso com serviço prestado pela Prefeitura e por isso ofendeu a mulher. “Deparei com a moça de cor e fiz a ofensa. Mas, se fosse atendido pelas brancas, também teria ofendido”, disse Filier.

“Não podia deixar isso passar, pois ele não ofendeu só a mim. E sim toda minha raça. Acho que isso serve como exemplo para muitas outras pessoas que acreditam que negros são inferiores”, afirmou a atendente.

Na delegacia, o aposentado ainda passou por duas situações pelo menos constrangedoras em relação ao crime a ele atribuído: foi atendido por dois policiais civis e um advogado, todos negros.

A FRASE

“Não aconteceu nada para ele tomar essa atitude tão agressiva. Eu chamei a senha dele e ele começou a me xingar. Não entendi nada.”

A.V.S.
Atendente vítima de preconceito racial

SAIBA MAIS

O aposentado Ariovaldo Luiz Filier, de 55 anos, foi detido com base na Lei 7716/89, de 1997. A legislação combate o preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Com base nos depoimentos, o delegado de plantão decidiu autuá-lo pelo artigo 20 — praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor e etnia. Esse tipo de crime torna-se afiançável apenas em juízo. Se condenado, Filier pode pegar de um a três anos de reclusão, além de multa.

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