terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Felicidade Sustentável

A Rede Nossa São Paulo desenvolveu o Irbem (Indicadores de
Referência de Bem-Estar nos Municípios) para avaliar a qualidade
de vida nas cidades. Para montar os indicadores, a perguntou-se
aos habitantes quais seriam os itens importantes para sua
qualidade de vida.

A maioria respondeu que a felicidade é ter uma boa, carinhosa e fraterna
convivência com a família, os amigos e a comunidade; uma relação amorosa
saudável; equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; acesso a educação e
transporte público de qualidade; proximidade da natureza; frequentar
cinema, espetáculos, teatros e museus; hospital e posto de saúde perto de
casa; melhor convivência com animais; vida espiritual rica; prática de
atividades físicas; ações comunitárias e a chance de viver numa sociedade
solidária e segura (veja a pesquisa completa em
www.nossasaopaulo.org.br>).

É claro que condições materiais razoáveis de vida são importantes, e é
fundamental que as políticas públicas objetivem proporcionar essa
realidade para todos. Mas centrar a felicidade no consumo e no acúmulo de
bens é insustentável.

Ao olhar todos os apelos que hoje relacionam consumo à felicidade, é de se
perguntar: como fizeram antigas gerações, antes de todas essas invenções,
para serem felizes? Como fazem as pessoas sem carros ou sem últimos
modelos para serem felizes? Por que muitas pessoas que têm todos esses
bens são infelizes?

Em vez de promovermos investimentos e empregos em atividades artísticas,
culturais e educacionais que favoreçam a saúde e o bem-estar, apoiem
idosos, pessoas com deficiência, crianças e populações menos favorecidas,
priorizem o transporte público de qualidade, preservem a natureza e
apostem na pesquisa médica e no desenvolvimento de energias sustentáveis,
concentramos nossos esforços em produzir bens de consumo que rapidamente
tornamos obsoletos para podermos, enfim, consumir suas novas versões.

Só teremos um modelo de desenvolvimento sustentável que preserve o
planeta, reduza a desigualdade e promova a paz, a solidariedade e a
qualidade de vida das pessoas e das futuras gerações se houver uma ampla
reflexão pessoal e coletiva sobre a felicidade, sobre o que realmente
precisamos para sermos felizes. E se essa reflexão pautar a vida das
pessoas, empresas, instituições e governos.

* Oded Grajew é coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e presidente
emérito do Instituto Ethos.

Texto publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo, em 20 de
novembro de 2013.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Autobiografia

"Para os seres humanos, como seres da práxis, transformar o mundo, processo em que se transformam também, significa impregná-lo de sua presença criadora, deixando nele as marcas de seu trabalho.

A criticidade e as finalidades que se acham nas relações entre os seres humanos e o mundo implicam em que estas relações se dão com um espaço que não é apenas físico, mas histórico e cultural.

Para os seres humanos, o aqui e o ali envolvem sempre um agora, um antes e um depois.

Desta forma, as relações entre os seres humanos e o mundo são em si históricas, como históricos são os seres humanos, que não apenas fazem a história em que se fazem mas, consequentemente, contam a história deste mútuo fazer.

A "hominização" - Chardin - no processo da evulução, anuncia o ser autobiográfico." (p.81)


Paulo Freire, Ação Cultural para a Liberdade. 2006.

O que é significação?

"Ou, antes, para abordar o problema de um ponto de vista mais operacional, em que consiste o ato de atribuir sentido?
A operação elementar da atividade interpretativa é a associação; dar sentido a um texto é o mesmo que ligá-lo conectá-lo a outros textos, e portanto é o mesmo que construir um hipertexto.

É sabido que pessoas diferentes irão atribuir sentidos por vezes opostos a uma mensagem idêntica. Isto porque, se por um lado o texto é o mesmo  para cada um, por outro o hipertexto pode diferir completamente. O que conta é a rede de relações pela qual a mensagem será capturada, a rede semiótica que interpretante usará para captá-la." (72, Lévy, 1993. As tecnologias da ciência)


"Trabalhar, viver, conversar fraternalmente com outros seres, cruzar um pouco por sua história, isto significa, entre outras coisas, construir uma bagagem de referências e associações comuns, uma rede hipertextual unificada, um contexto compartilhado, capar de diminuir riscos de incompreensão."
 (p. 72-73)


o processo de alfabetização de adultos como ação cultural para a libertação

" Aprender a ler e escrever se faz assim uma oportunidade para que mulheres e homens percebam o que realmente significa dizer a palavra: um comportamento humano que envolve ação e reflexão.

Dizer a palavra, em um sentido verdadeiro, é o direito de expressar-se e expressar o mundo, de criar e recriar, de decidir, de optar. Como tal, não é privilégio de uns poucos com que silenciam as maiorias.

É exatamente por isto que, numa sociedade de classes, seja fundamental à classe dominante estimular o que vimos chamando de cultura do silêncio, em que as classes dominadas se acham semimudas ou mudas, proibidas de expressar-se autenticamente, proibidas de ser. "

(p.59, Paulo Freire, 2006). (Ação Cultural para a Liberdade)

semântica

Linguística. Que tem por objeto o estudo da relação dos signos com aquilo que eles significam, numa língua dada, i.e., estudo das palavras no que respeita a seus significados.

Sinônimo de semântica: semiologia


"Quando ouço uma palavra, isto ativa imediatamente em minha mente uma rede de outras palavras, de conceitos, de modelos, mas também de imagens, sons, odores, sensações proprioceptivas, lembranças, afetos, etc." Lévi, 1993, 23)

"Isabela come uma maça por suas vitaminas"
"maça da discórdia"
"maça de Newton"

as imagens e modelos mentais são diferentes.

"cada palavra contribui para produzir um contexto, ou seja, uma configuração semântica reticular que, quando nos concentramos nela, se mostra composta de imagens, de modelos, de lembranças, de sensações, de conceitos e de pedaços de discurso." (p.24)

"Não somente cada palavra transforma pela ativação que propaga ao longo de certas vias, o estado de excitação da rede semântica, mas também contribui para construir ou remodelar a própria topologia da rede ou a composição de seus nós." (24)

Em questão a cultura, a leitura, as experiências de vida!

Neutralidade

Livro: Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos. Paulo Freire. 9a Ed. 2006.

"Na estrutura social, enquanto dialetização entre a infra e supra-estrutura, não há permanência da permanência nem mudança da mudança, mas o empenho de sua preservação em contradição com o esforço por sua transformação.
Dai que não possa ser o trabalhador social, como educador que é, um técnico friamente neutro.
Silenciar sua opção, escondê-la no emaranhado de suas técnicas ou disfarçá-la com a proclamação de sua neutralidade não significa na verdade ser neutro mas, ao contrário, trabalhar pela preservação do "status quo"." (p.45)

A metáfora do Hipertexto

Livro: As tecnologias da Inteligância: O futuro do Pensamento na Era da Informática. 1993. Pierre Lévy.

"Seria a transmissão de informações a primeira função da comunicação?
Decerto que sim, mas em um nível mais fundamental o ato de comunicação define a situação que vai dar sentido às mensagens trocadas.
A circulação de informações é, muitas vezes, apenas um pretexto para a confirmação recíproca do estado de uma relação.
Quando, por exemplo, conversamos sobre o tempo com um comerciante de nosso bairro, não aprendemos absolutamente nada de novo sobre a chuva ou o sol, mas confirmamos um ao outro que mantemos boas relações, e que ao mesmo tempo nossa intimidade não ultrapassou um certo grau, já que falamos de assuntos anódinos etc." (p.21)