terça-feira, 14 de outubro de 2008

Nunca tinha ouvido falar de...

Nunca tinha ouvido falar de ...

Artigo coletivo sobre Paulo Freire(1).

Aprendi coisas muito interessantes nestes últimos dois meses. Quero destacar a minha admiração por Paulo Freire, educador fascinante, que trouxe um modelo de educação revolucionário. Obter novas informações deste homem criou em mim uma apreciação, que antes não existia. Pensando, “paulofreiriando”, a descoberta do ser mais, trouxe, de forma pessoal, uma nova maneira de ver as nossas limitações. Repenso tudo aquilo que faz parte da minha história e percebo que foram meios para alcançar o saber e aprender a reconhecer as nossas limitações, ao mostrar que cada ser é diferente e acabam por se completar em seus diferenciais.
Hoje, sinto-me um ser melhor. Aproveito as lições da vida, que antes me faziam um ser menos, agora, transformo-as em degraus, que me fazem um ser mais.
Através do método de ensino utilizado no nosso curso, aprendi e ensinei que, realmente, não existe alguém que saiba mais ou menos. Existe, sim, uma troca de conhecimentos entre todos, com um líder que é um educador e que apenas chegou antes a certas informações.
Percebi, também, que meu rendimento melhorou, devido à organização da turma em círculo, pois, ao conhecer todos os participantes, senti-me mais à vontade.
Aprendi que escrever projetos não é só fazer aquilo que vai nos agradar ou satisfazer. O segredo do sucesso de um projeto é agradar e satisfazer as outras pessoas, respeitando-as sempre, independente das diferenças.
Nas participações, pude notar que posso aprender e ensinar na simplicidade das pessoas. No ato de perceber-me mais atenta para coisas que não sei, eu aprendi a ouvir. E se ouvi, e ainda não sei, posso pesquisar.
Aprendi a observar-me mais. Como, por exemplo, a não ficar falando sempre a mesma frase, várias vezes, a exemplo de: “ Você não tem noção...” Ou, até mesmo, a me sentar no mesmo lugar. Já mudei este hábito rotineiro.
Comecei a prestar mais atenção no sentido, ou no significado das palavras. Comecei a ler mais. No momento estou lendo um livro e encontrei referências sobre Paulo Freire. O nome do livro é “O que as mulheres não dizem aos homens”, de Rose Marie Muraro.
O que me marcou, e que nunca tinha percebido, foram os comentários de Paulo Freire a respeito da educação. Seu grande respeito por todos e pelos comentários de cada aluno. Outro conceito marcante é a reflexão sobre o “ser mais” e “o ser menos”. Tenho repensado a falta de respeito ao próximo, nestes dias de democracia e consumismo. Independente de qual classe social somos parte, devemos nos aperfeiçoar e realizar trabalhos sociais. Tenho percebido, através das atividades, que se nos respeitarmos, teremos, com certeza, um mundo mais humano. Acredito que ensinei a respeitar as opiniões emitidas. Aprendi que devemos nos dedicar mais a servir ao próximo, através de nossas igrejas e organizações.
O fato que mais mexeu comigo é o de termos um grande pensador, na área de educação, e que devemos ter orgulho disso. Estudamos e vimos que Paulo Freire nunca pensou de forma egocêntrica, principalmente, quando, na década de 60, participou do movimento contra o analfabetismo, impactando-o, de tal forma, que seus livros foram traduzidos em centenas de línguas.
Comparo isto com um ensinamento bíblico: Jesus também tinha este modelo de pensamento, e essa dinâmica, ao ensinar e dialogar com as outras pessoas. Lembro uma citação bíblica, onde Jesus fala da salvação para uma mulher samaritana. Na ocasião, ela estava em uma fonte de água. Ele relacionou a sede à fonte d’água viva. Ou quando fez uma analogia, ao chamar Pedro para ser pescador de homens, sabendo que era pescador por profissão. Educar é fazer o cotidiano de cada pessoa ser importante. Educar é transformar esse cotidiano, em direção a uma melhor forma de viver e ensinar.
Uma educação que desconsidera as pessoas e sua realidade social é alienada. O objetivo do educador e da educadora é ouvir as pessoas e elaborar perguntas, pensando criticamente, sobre com o que elas estão acostumadas a conviver em seu dia-a-dia.
Não ter preconceito é sempre aprender uns com os outros e perceber que as pessoas sempre nos ensinam alguma coisa.
Nas últimas semanas pudemos desfrutar de uma grande oportunidade de reflexão e amadurecimento, compartilhado as idéias, os conceitos e diagnosticando os nossos preconceitos.
Participar de discussões em grupo é um meio de “empoderar” o grupo. É perceber, em mim, o potencial de dividir com outros, o que tenho em mim e desfrutar do aprendizado, que isto pode me proporcionar. Este processo motivou-me a sair da rotina egoísta e a passar a dedicar tempo ao convívio com mulheres, as donas de casa, as esposas, as mães, algumas já viúvas; cada uma com um grande potencial para me ensinar, e muito. Com as quais, tenho tentado compartilhar, o que, parcialmente, sei.
A valorização do ser humano é o ponto central de nossa análise e deve ser o foco de nossos reais esforços. O acolhimento recebido neste período de estudos foi prática disto.
Aprender, através dos textos de Paulo Freire, é excelente e muito proveitoso. Encontramos várias lições, a exemplo: nunca fazer acepção de pessoas, amar e respeitar a todos, ouvir e entender, ser humilde, se despojar do preconceito.
- Que todos nós possamos praticar o aprendizado!
Nestes encontros, descobre-se uma maneira muito interessante de aprendizagem: utilizar, em tudo que se faz e fala, a observação. Conhecer é incorporar um novo conceito sobre um fato, a partir de uma nova observação.
Talvez, em função da educação familiar, escolar e secular, tenha sempre aprendido de outra forma, que era muito empírica e, ao mesmo tempo, me fazia pensar menos, ouvir menos e errar mais.
É necessário exercitar, a cada dia, o ato de ampliar a intensidade dos diálogos, das escutas, das observações e desenvolver uma nova forma de pensar, a respeito de cada novo conceito adquirido, referente às coisas e pessoas.
Às vezes, me pego com o sentimento de opressor, quanto a alguém. Outras como oprimido por alguém. Sendo que, este último sentimento, é muito desconfortável.
Em função destes conceitos, aprendi algo muito importante que é: ninguém é vazio de conhecimento. Com esse pensamento tenho “investigado” mais sobre as pessoas ao meu redor, procurando entende-las. Descobri que todas têm algo para me ensinar, mesmo que pensem ser algo banal, ou sem importância.
A partir do entendimento, a respeito do relacionamento entre o educador e o educando, onde ambos aprendem e ensinam, pude aplicar este conceito ao meu relacionamento interpessoal, com os colegas no trabalho.
Enxerguei sob um novo prisma, a minha forma de explicitar e obter o conhecimento, respeitando e querendo saber o meu interlocutor, a partir da busca de novas informações sobre este. Reconhecendo a importância de suas origens, histórias, limitações e, até, necessidades.
Pude aprender, muito mais que ensinar, através de uma simples conversa. Onde a chave de tudo é o conhecimento e o respeito pelo outro e por mim mesmo.
Nunca tinha ouvido falar de Paulo Freire. Amei de paixão, por existir alguém, que mudou todo o ensinamento, que eu conhecia.
Os depoimentos, dados pelas pessoas sobre ele, foram fantásticos. O que me marcou, foi uma senhora que disse: “Aprender, com Paulo Freire, foi como se experimentasse um pedaço de bolo.”
Foi uma comparação fantástica, sobre saber escolher o bom, do melhor.
Gostei, também, de saber a diferença entre o significado das palavras radical e sectário. Sinto-me no caminho certo.
Este texto é uma construção coletiva. A permanência de certas não concordâncias, e de concomitância entre o eu (primeira pessoa do singular) e o nós (primeira pessoa do plural) é proposital. Explicita nossa dicotomia cotidiana entre: se penso ou se pensamos, se faço ou se fazemos, se sinto ou se sentimos, se sou ou se somos.
Conhecer-se é fundamental, mas conhecer o outro, suas necessidades e seus conhecimentos, possibilitam experiências e sensações inigualáveis.
Melhor do que ser é trocar com o outro o que somos e temos.
Entendi, ao “final” dos encontros, que quando amamos, descobrimos também o quanto somos amados, por nós mesmos e pelo outro.
Creio que participar em projetos sociais consiste em trocas, lembrando-me do que é um diálogo, conforme afirma Paulo Freire: “ser dialógico é não invadir, é não manipular, é não sloganizar. Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade”.
Mergulhando na teoria, que não nos esqueçamos da prática destes conceitos.
Estou amando aprender, pois tinha muitos pontos de interrogação.
Corrigindo, temos.

Referência
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa 33a. ed, São Paulo: Paz e Rerra, 1996.

(1)Cínthia Scarpiello, Elisangela Rezende, Esdras de Sena Barbosa, Gabriel Locatelli Marques da Silva, José Ferreira Junior, Lucas A. Poletto Neves, Lucilene L. Paze, Madalena Marques, Odair Marques da Silva, Paula C. O. Araújo, Paulo Souza, Samuel Araújo, Teresa Dias Fernandes.
Grupo participante do Seminário Nazareno em Santo André. Módulo sobre terceiro setor e projetos sociais sob uma ótica freireana. "Formando líderes e ministros para os desafios deste século e para as muitas faces da pós-modernidade". Contato: etedabc@uol.com.br - Santo André/SP, setembro/2008.

Nenhum comentário: